Eles fazem sucesso com as mulheres e atendem artistas famosos
POR CRISTINE GERK
Vinicius Franco, Roberto, Roberto Carlos e Elton mostram suas
ferramentas de trabalho: eles atendem homens e mulheres em toda a cidade
| Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Rio - Típicos ‘machões’, eles trabalhavam como mecânicos, frentistas e
metalúrgicos até que resolveram largar tudo e virar manicures. A
profissão virou negócio de família: já são 16 parentes trabalhando com
unhas de porcelana, e metade deles é de homens. No início sofreram
preconceito, mas hoje colhem os frutos da ousadia. Além de fazerem
sucesso com a mulherada, são famosos no ramo e já atenderam celebridades
como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Vercillo, Moraes Moreira, Cléo
Pires, Alcione e Aracy Balabanian.
“Começou com cunhado meu que era guardião de piscina num hotel e
conheceu alemã que trabalhava com isso. Ele casou com ela, aprendeu o
ofício e passou para a família”, conta Roberto Carlos, 47, o mago das
unhas — como ele mesmo se denomina. Roberto revela que quando trocou a
função de frentista pela de designer de unhas, sua mulher ficou
preocupada. “Ela achou que eu tinha virado bicha. Os amigos sacanearam.
Hoje, ela reza para eu ficar no ramo”, ri.
Segundo o sobrinho de Roberto, Elton Santos, 28, a profissão tem efeito
inverso: é chamariz de mulheres: “A gente vai fazer a unha delas, aí o
papo rola, começam a dar em cima. Todas as minhas namoradas tinham unha
de porcelana”. Dos homens da família, todos são casados e têm filhos.
“Quando
vou a uma festa, de repente me dou conta de que estou no meio das
mulheres, e não dos homens. Tenho muito assunto com elas. Escuto as
dicas que me dão e aplico com a minha mulher”, diverte-se o
ex-metalúrgico Roberto Franco, 42, pai de Elton. Ele diz que vira
conselheiro das clientes: “Já salvei muito casamento”.
Mas
nem tudo são rosas quando o assunto é esmalte. Roberto Carlos já passou
maus bocados com a polícia. “Fui parado numa blitz e mandaram abrir a
mala. Quando viram o pó de porcelana, suspeitaram”, conta. Segundo ele,
atender famosos também não é fácil: “Eles ligam e a gente tem que ir até
eles. Já tive que ir no Canecão na hora que Alcione ia cantar porque a
unha quebrou”.
Tradição deixa negócio mais lucrativo
A família de Roberto Carlos foi pioneira no negócio de unhas de porcelana no Brasil: começaram em 86. Hoje cobram de R$ 120 a R$ 250 para colocá-las e de R$ 60 a R$ 120 para a manutenção, feita a cada 20 dias.
O
curso de dois dias deles sobre a técnica custa R$ 650. Com isso, tiram
ao menos R$ 5 mil por mês. “Tem quem coloque as unhas por estética, para
parar de roer. Os músicos dizem que ajuda a dedilhar o violão”, diz
Roberto.
A comerciante Luciana Medroso, 41, gosta de ser atendida por homens: “Eles são até mais cuidadosos”.
Como se faz
LIXAMENTO
As
unhas verdadeiras são lixadas para facilitar a adesão do material. O
procedimento é repetido depois de a unha ser colocada. Isso reduz
cutículas. É aplicado ainda um líquido antimicose.
INSERINDO O PÓ
Ao
contrário do que se pensa, as unhas não existem antes de serem
aplicadas. Elas são moldadas individualmente com um pó de porcelana,
aplicado com um pincel banhado em resina.
ARTESANAL
Com
ajuda de uma forma de papel encaixada embaixo da unha verdadeira, o
designer espalha a pasta com o pincel, no formato que ela teria se
crescesse normalmente.
FINALIZAÇÃO
A
pasta endurece e a forma é retirada. As pontas são lixadas ou cortadas.
Então, as novas unhas de porcelana estão prontas para serem pintadas
ou decoradas.
Fonte: http://odia.ig.com.br/portal/rio/homens-da-mesma-fam%C3%ADlia-largam-profiss%C3%B5es-e-viram-manicures-1.457790
Profissão manicuro: eles fazem as unhas delas!
Homens invadem espaço antes feminino e se dão bem com lixas, alicates e esmaltes
Mariana Poli, do R7*
Julia Chequer/R7
Suely, dona do Empório das Unhas, com três dos cinco manicuros que trabalham com ela no salão
Ele trocou as armas de fogo por alicates, espátulas,
lixas e vidrinhos de esmalte. Ex-segurança de carro forte, Henrique de
Oliveira, 38 anos, virou manicure e se dedica hoje aos alongamentos de
unhas em um salão no centro de São Paulo.
Assim como ele, vários homens já têm encarado a função numa boa, ganhando a confiança de clientes.
- Trabalhei em carro forte e corria riscos todos os dias. Enfrentei assaltos e trocas de tiro. Sou 100% fazer unhas.
Foi Suely Munekata, dona do Empório das Unhas, quem deu a chance a
Oliveira e aos outros quatro homens que trabalham por lá atualmente,
fora os que fizeram curso - o local é conhecido pelas aulas de
alongamento e decoração de unhas.
A profissional conta que trabalhar com homens era um desejo antigo.
- Nos EUA e na Europa é mais comum [homens nesta atividade]. Morei anos
no exterior e sempre tive vontade de treiná-los para ver como seria.
Eles foram chegando aos poucos. O primeiro era carregador de caminhão.
Era grandalhão e esquisito. Aos poucos, tornou-se um excelente
profissional.
Suely ainda diz que os homens têm pontos que contam a favor, como a concentração.
- Parece que saem do mundo quando estão trabalhando. Se focam com muito mais facilidade.
Elias Félix, 23 anos, estava fora do mercado de trabalho. Virou promoter
do Empório das Unhas e acabou se encantando com a ideia de “decorar” as
mãos femininas. Sua especialidade são unhas em 3D e alto relevo.
- Não sabia que existia isso [homens manicure]. Encaro como uma forma
de expressão, em que posso liberar minha criatividade. Não gosto de
cutilagem, de mexer com alicate. Meu negócio é pensar em coisas
mirabolantes.

O ator Elias Félix, 23 anos, viu nas unhas uma maneira de ter estabilidade financeira (Foto: Julia Chequer/R7)
Remmy Sorcel, 24 anos, começou a trabalhar como manicure no salão
Jacques Janine há três anos. Antes de assumir essa função, ele era
auxiliar do salão. Foi se interessando pela atividade e, aos poucos,
passou a fazer unhas das clientes.
- Observava como as manicures trabalhavam. Aprendi, aperfeiçoei a técnica e agora estou na função.
Toque masculino
Sorcel se diverte com a reação das clientes, que ficam curiosas para fazer as unhas com ele.
- Elas querem saber se faço melhor do que as mulheres. É engraçado. Acho
complicado comparar, mas elas gostam do meu trabalho porque sou muito
perfeccionista. Preocupo-me com o formato da unha, com o acabamento e se
não deixei cutícula sobrando, por exemplo.
Embora se dedique mais ao ofício de dar aulas, Oliveira precisou aprender controlar a própria força e a ter delicadeza.
- Imagine, eu fico duas horas [tempo que leva um alongamento] segurando
nas mãos delas. Depois de um tempo, viro psicólogo. Estou dando
conselhos sobre maridos. Escuto de tudo, mas guardo para mim.
Preconceito
Mas nem tudo são flores para estes homens corajosos. Suely, acostumada à
treiná-los, gosta de avisar que é preciso ousadia. O preconceito existe
e, em certos casos, é pesado.
Oliveira, acostumado à vida de segurança, conta ter sofrido preconceito dos amigos e da família.
- Foi difícil. O pessoal achava estranho. Quando os colegas de escola do
meu filho descobriram, por exemplo, bagunçaram muito com ele: 'Teu pai é
gay, faz unhas!'
Já a ex-mulher teve ciúme:
- Ela ficou insegura, já que eu ficaria diariamente em contato com mulheres.

Remmy Sorcel, 24 anos, trabalha no salão Jacques Janine como manicuro há três anos (Foto: Divulgação)
Sarcel diz que enfrentou preconceito apenas uma vez, quando uma cliente se negou a fazer as unhas com ele.
- Ela não sabia que estava agendada comigo, quando viu, foi até à
recepção e disse que não faria. Chegou a mandar e-mail ao salão falando
que jamais faria as unhas com um homem.
Com Félix, o papo foi outro. Como também é ator de teatro, ele conta que
os amigos, mais abertos, entenderam perfeitamente sua escolha. A
família, que estranhou de início, logo encarou os fatos.
- Como estava desempregado, ser manicuro me trouxe estabilidade
financeira. Comecei a ganhar dinheiro e isso fez com que encarassem este
trabalho como outro qualquer.

"Fico duas horas segurando nas mãos delas. Viro até psicólogo", diz Oliveira (Foto: Julia Chequer/R7)
Um mercado em ascensão
Suely, pioneira neste ramo, enxerga com otimismo a entrada dos homens neste mercado de trabalho.
- Quando começamos, há alguns anos, o preconceito era muito maior. Tenho
recebido cada vez mais homens. Já vieram dentistas, designers e até um
senhor de 70 anos, que começou a fazer unhas de travestis.
Sorcel concorda com ela:
- Pelo que eu vejo, a área está crescendo. Existem outros homens querendo fazer cursos e se interessando.