Rio -  Típicos ‘machões’, eles trabalhavam como mecânicos, frentistas e metalúrgicos até que resolveram largar tudo e virar manicures. A profissão virou negócio de família: já são 16 parentes trabalhando com unhas de porcelana, e metade deles é de homens. No início sofreram preconceito, mas hoje colhem os frutos da ousadia. Além de fazerem sucesso com a mulherada, são famosos no ramo e já atenderam celebridades como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Vercillo, Moraes Moreira, Cléo Pires, Alcione e Aracy Balabanian.

“Começou com cunhado meu que era guardião de piscina num hotel e conheceu alemã que trabalhava com isso. Ele casou com ela, aprendeu o ofício e passou para a família”, conta Roberto Carlos, 47, o mago das unhas — como ele mesmo se denomina. Roberto revela que quando trocou a função de frentista pela de designer de unhas, sua mulher ficou preocupada. “Ela achou que eu tinha virado bicha. Os amigos sacanearam. Hoje, ela reza para eu ficar no ramo”, ri.
Segundo o sobrinho de Roberto, Elton Santos, 28, a profissão tem efeito inverso: é chamariz de mulheres: “A gente vai fazer a unha delas, aí o papo rola, começam a dar em cima. Todas as minhas namoradas tinham unha de porcelana”. Dos homens da família, todos são casados e têm filhos.

“Quando vou a uma festa, de repente me dou conta de que estou no meio das mulheres, e não dos homens. Tenho muito assunto com elas. Escuto as dicas que me dão e aplico com a minha mulher”, diverte-se o ex-metalúrgico Roberto Franco, 42, pai de Elton. Ele diz que vira conselheiro das clientes: “Já salvei muito casamento”.

Mas nem tudo são rosas quando o assunto é esmalte. Roberto Carlos já passou maus bocados com a polícia. “Fui parado numa blitz e mandaram abrir a mala. Quando viram o pó de porcelana, suspeitaram”, conta. Segundo ele, atender famosos também não é fácil: “Eles ligam e a gente tem que ir até eles. Já tive que ir no Canecão na hora que Alcione ia cantar porque a unha quebrou”.

Tradição deixa negócio mais lucrativo

A família de Roberto Carlos foi pioneira no negócio de unhas de porcelana no Brasil: começaram em 86. Hoje cobram de R$ 120 a R$ 250 para colocá-las e de R$ 60 a R$ 120 para a manutenção, feita a cada 20 dias.

O curso de dois dias deles sobre a técnica custa R$ 650. Com isso, tiram ao menos R$ 5 mil por mês. “Tem quem coloque as unhas por estética, para parar de roer. Os músicos dizem que ajuda a dedilhar o violão”, diz Roberto.

A comerciante Luciana Medroso, 41, gosta de ser atendida por homens: “Eles são até mais cuidadosos”.

Como se faz

LIXAMENTO
As unhas verdadeiras são lixadas para facilitar a adesão do material. O procedimento é repetido depois de a unha ser colocada. Isso reduz cutículas. É aplicado ainda um líquido antimicose.

INSERINDO O PÓ
Ao contrário do que se pensa, as unhas não existem antes de serem aplicadas. Elas são moldadas individualmente com um pó de porcelana, aplicado com um pincel banhado em resina.

ARTESANAL
Com ajuda de uma forma de papel encaixada embaixo da unha verdadeira, o designer espalha a pasta com o pincel, no formato que ela teria se crescesse normalmente.

FINALIZAÇÃO
A pasta endurece e a forma é retirada. As pontas são lixadas ou cortadas. Então, as novas unhas de porcelana estão prontas para serem pintadas ou decoradas.